“Se eu ordenasse que um general voasse de flor em flor como
uma borboleta, ou que escrevesse uma peça de teatro, ou que se tornasse uma
gaivota, e se o general não executasse a ordem que recebeu, qual de nós estaria
errado? – O rei perguntou – O general ou eu? // – Você – respondeu o pequeno
príncipe, com firmeza. // – Exactamente. Só se deve exigir o que as pessoas
podem cumprir – O rei continuou – A autoridade que é aceite, apoia-se, antes de
tudo, na razão. Se você ordenasse ao seu povo que se jogasse no mar, eles se
levantariam em revolução. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas
ordens são razoáveis.”
Antoine de Saint Exupéry, em O Pequeno Príncipe
Pedir a uma criança que pare quieta é equivalente ao rei
louco pedir ao seu povo que se atirasse ao mar. O imperativo da vida das
crianças é o movimento. Cada milímetro dos seus pequenos corpos ordena-lhes que
se movam incessantemente. É a autoridade da vida, e está acima da nossa
autoridade.
Seria possível, por exemplo, ordenar a uma árvore que não
cresça? Apenas cortando-lhe as raízes. Tirando-a do seu curso natural.
Desviando-a do seu natural desenvolvimento. Impedindo a vida. A autoridade
nunca pode impedir a vida. Isso resultaria num desflorescer, num definhar.
Mas então, perguntam vocês, quando a criança está pronta
para sair vou ter de a deixar fazer bolos de terra ou rebolar na relva enquanto
espera que esteja tudo pronto para sairmos, por exemplo?
Claro que não! Mas também não lhe peça para ficar quieta.
Que tal lhe propor uma actividade mais sossegada à qual ela tenha mostrado
interesse nos últimos tempos?
A autoridade que não se opõe à vida é sempre bem-vinda pela
criança. E é preciso conhecer a criança. A que está à nossa frente. A
actividade que tem feito com interesse, a que repete todos os dias, a que lhe
prendeu a atenção por um longo período de tempo são sinais. Sinais à beira da
estrada a indicar as regras da vida. E qualquer coisa que a nossa autoridade
exija tem de estar em consonância com as regras da vida. Ou isso ou,
naturalmente, não esperemos obediência.