terça-feira, 14 de novembro de 2017

"Peça a uma criança apenas aquilo que ela lhe possa dar."


“Se eu ordenasse que um general voasse de flor em flor como uma borboleta, ou que escrevesse uma peça de teatro, ou que se tornasse uma gaivota, e se o general não executasse a ordem que recebeu, qual de nós estaria errado? – O rei perguntou – O general ou eu? // – Você – respondeu o pequeno príncipe, com firmeza. // – Exactamente. Só se deve exigir o que as pessoas podem cumprir – O rei continuou – A autoridade que é aceite, apoia-se, antes de tudo, na razão. Se você ordenasse ao seu povo que se jogasse no mar, eles se levantariam em revolução. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis.”
Antoine de Saint Exupéry, em O Pequeno Príncipe

Pedir a uma criança que pare quieta é equivalente ao rei louco pedir ao seu povo que se atirasse ao mar. O imperativo da vida das crianças é o movimento. Cada milímetro dos seus pequenos corpos ordena-lhes que se movam incessantemente. É a autoridade da vida, e está acima da nossa autoridade.
Seria possível, por exemplo, ordenar a uma árvore que não cresça? Apenas cortando-lhe as raízes. Tirando-a do seu curso natural. Desviando-a do seu natural desenvolvimento. Impedindo a vida. A autoridade nunca pode impedir a vida. Isso resultaria num desflorescer, num definhar.
Mas então, perguntam vocês, quando a criança está pronta para sair vou ter de a deixar fazer bolos de terra ou rebolar na relva enquanto espera que esteja tudo pronto para sairmos, por exemplo?
Claro que não! Mas também não lhe peça para ficar quieta. Que tal lhe propor uma actividade mais sossegada à qual ela tenha mostrado interesse nos últimos tempos?


A autoridade que não se opõe à vida é sempre bem-vinda pela criança. E é preciso conhecer a criança. A que está à nossa frente. A actividade que tem feito com interesse, a que repete todos os dias, a que lhe prendeu a atenção por um longo período de tempo são sinais. Sinais à beira da estrada a indicar as regras da vida. E qualquer coisa que a nossa autoridade exija tem de estar em consonância com as regras da vida. Ou isso ou, naturalmente, não esperemos obediência.

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