quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Em defesa da infância

Hoje, há mais teorias do que coração. Hoje, olha-se mais para os livros do que para os olhos das crianças. Ouve-se mais os debates do que as palavras que, tantas vezes, elas calam. Hoje, vive-se muito rápido, respira-se num fôlego. Queremos crianças robots. Formatadas. Perfeitas. Independentes. Desenrascadas. Sossegadas. Que aprendam logo as letras. Que saibam fazer contas. Que falem inglês. Que comam a sopa toda. Que cumprimentem sempre com beijinhos. Que sorriam para a fotografia. Que durmam na cama deles. Sempre. Queremos isso tudo. E rápido. Porque senão já não vai haver tempo. Porque senão já não vão poder ser tudo o que quiserem. Porque sentados a fazer fichas é que é trabalhar e aprender. Porque só se transformam em seres independentes se dormirem na cama deles, no quarto deles, sempre. Porque se comerem doces ficam diabéticos. Porque se não tiverem aulas de dança não vão ser grandes dançarinos. Porque se não dormirem a sesta não crescem tão bem. Porque se não comerem tudo ficam fracos. Porque se se sujarem ficam doentes. E então, pôr as mãos na boca é que não. Porque dar muito colo estraga. Porque acalmar sempre o choro não os ajuda a lidar com frustrações. Porque isto e porque aquilo. E chega ao fim, estamos a falar de crianças. Aquelas que parecem ser apenas números, e nomes. Aquelas que todos querem que sejam tudo menos aquilo que são: crianças. Podemos parar este carrossel infernal, por favor? Podemos abrandar este ritmo alucinante que está a espatifar a infância?

2 comentários:

  1. Concordo plenamente. E o pior é temos que estar atentos para não cair no mesmo erro.

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