segunda-feira, 6 de novembro de 2017

O choro


A Matilde sempre foi muito tranquila e sorridente. Não sabemos o que é uma noite em claro. Quase não assistimos ao desespero das cólicas. 
Chamo-lhe a Matilde-sorrisos por estar sempre bem disposta. Tem riso fácil. Adora música. Passear. Tomar banho. Fitar-se no espelho. 
A Matilde também chora. Chora porque não sabe, ainda, expressar-se de outra forma. Chora quando tem sono, sede, ou calor. Chora quando não quer estar sozinha, ou quando quer colo. E a gente faz-lhe companhia como quem embala o sono. A gente dá-lhe colo como quem mata a sede. Não há, por cá, caprichos. Não há, por cá, manhas. Há um bebé. E um bebé tem necessidades. Um bebé precisa de colo, carinho, afecto. Um bebé precisa de olhos nos olhos, pele na pele. Um bebé precisa de canções sussurradas ao ouvido, de mãos que façam cócegas, de olhares que lhes leiam os gestos. Um bebé chora. Todos os bebés choram. E precisam de respostas. Um bebé cujo choro não tem resposta não se habituará a mais nada a não ser a que ninguém venha em seu auxílio. 

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